Episódio 38 - «Um gatinho pode ser uma questão política» (Catarina Sobral)

 

Esta história é um cliché. Uma banalidade. Um lugar-comum!
É pouco original, com motivos que já foram repetidos vezes sem conta noutras histórias. Por exemplo: tem um final feliz e um herói. E começa com um gatinho preso numa árvore.

Então: ontem fomos tentar salvar um gatinho que estava preso numa árvore muito alta.
Fomos que é como quem diz: foi o Ricardo. Porque o Ricardo é que sabe subir às árvores, eu não sei. Nem os bombeiros (outro cliché), que já lá estavam quando chegámos. Foi preciso que alguém como o Ricardo subisse sozinho.
Ele é o herói desta história, porque apesar de não ter resgatado o gatinho foi quem o salvou. Porque se ele não estivesse sozinho na árvore em missão de salvamento, mais ninguém teria feito nada. Cá em baixo estava eu, sozinha com os bombeiros, e no meio de uma zaragata! Porque todos quiseram ver o que acontecia ao gatinho e ao Ricardo e como cada um tem a sua opinião, com diferentes minudências e cores políticas, armou-se uma confusão: havia o grupo das pessoas pró-gatinho e o grupo das pessoas anti-gatinho. As pessoas pró-gatinho queriam mais bombeiros e mais escadotes e as pessoas anti-gatinho não queriam nada daquilo, que-aquele-circo-até-já-era-demais-vejam-lá-o-disparate. E enquanto o Ricardo subia gerou-se uma discussão sobre os meios, os esforços e a importância dos gatinhos. E eu só tremia porque o Ricardo já estava num dos ramos mais altos, mais estreitos e mais perigosos.

Como esta história é um cliché ganharam os “bons”, ou seja, os que estavam do lado do herói: as pessoas pró-gatinho. Ele salvou-se e o Riccardo também.
E eu parei de tremer. 

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