Episódio 30 - «O génio velhinho» (David Machado)
Um dia, encontrei uma lâmpada mágica,
Esfreguei-a e um génio apareceu.
Era um génio velhinho, corcunda e magrinho,
Pequeno como um pigmeu.
Usava bengala e um olhar de espanto
Porque se esquecia de tudo.
Tinha um fato gasto e o cabelo branco,
Era míope e meio-surdo.
Então, ele disse: “Pede um desejo”
E o que pedires, será teu.”
E eu pedi um tesouro, lingotes de ouro
Empilhados até ao céu
E o génio disse: “Isso vai ser difícil.
Sou génio pobre, não vês?
Já não tenho joias, nem ouro para dar
Desde mil oitocentos e vinte três”
Então, eu pedi um castelo de reis,
Com dezoito torres e um fosso.
E o génio gemeu, bufou, contorceu-se,
Disse: “Mas dói-me tanto o pescoço
E as costas e as pernas e os joelhos e os braços
E os dedos dos pés e das mãos.
Faltam-me as forças, vai ser complicado
Meter-me em tal construção.
Então, pedi, já resignado
Um limão para fazer limonada
E o génio, orgulhoso e prestável, sorriu
Disse: “É para já, não custa nada.”
E eu não volto a pedir desejos
A um génio que ouve mal
Pois agora em vez de um limão
Tenho um leão no quintal.
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