Episódio 27 - «Tigres dentes...de quê» (Rita Taborda Duarte)



Há mesmo muito tempo, rebanhos de mamutes cobriam a superfície desse mundo antigo, que antigamente havia 

Já se percebe a inteira tontice do livro que tens em mãos: toda a gente sabe que os mamutes não se juntavam em rebanhos. Se assim fosse, chamar-se-iam ovelhutes, o que tornaria esta história ainda mais absurda do que na realidade parece ser. 

Bom, como se chamava aos mamutes, quando eles andavam todos juntos e em filinha os últimos levando na tromba o rabo que os da frente tinham na verdade não sei e pouca gente haverá que o saiba.. Nessa altura de que falo, só existiam homens e mulheres primitivos. E esses homens haviam de ter tantas preocupações… de certeza que não se punham com estas minhoquices manientas de darem nomes aos bichos quando os viam muito juntinhos a caminhar sobre a carapaça do mundo. Aliás, tirando uns grunhidos mal amanhados, com sílabas à toa, os homens da idade da pedra nem sequer falavam com palavras e frases que se entendessem. É até muito provável que, quando vissem uma multidão de mamutes a manifestar-se barulhenta e corpulentamente (vê lá se consegues dizer esta palavra?). Quando a dizemos, parece mesmo que estamos a tocar trombeta só com as bochechas e os lábios: 

Ora, diz lá: 

CORPULENTAMENTE 

COR  PU   LEN  TA  MEN  TE 

COR PU LEN TA MEN TE 

Até parece mesmo o batuque do caminhar do mamute Tan tum len tan men te tan tu tan tu ten tun Cor pu len ta men tun Cor pu ma mu ten te (Há palavras que nem precisam de dicionário: o próprio som batucado, mamutado, explica por si só todos os sentidos.) Como ia eu dizendo, muito provável que mal os homens primitivos vissem uma multidão de mamutes a manifestar-se barulhenta e tan tun tan ta mente desatassem de imediato numa agitação, a mexer braços e pernas e a fazer grunhidos pré-históricos. Não se iriam sentar à volta da fogueira, a decidir qual o nome que lhes haviam de dar. Portanto, se os mamutes se passeavam em rebanho, em vara ou em manada, isso nunca o poderemos saber. O que interessa é que eram enormes, e balanceavam longuíssimas trombas que lhes cresciam mesmo abaixo dos olhos e chegavam quase até às unhas das patorras. 

 Bio Rita Taborda Duarte

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