Episódio 10 - «XYZ» (Catarina Sobral)
Estou na sala 1, do Bloco A.
Ele estará na sala 1, do Bloco C.
Toca a campainha.
Agora estou no recreio, e ele estará a sair do bloco,
se não ficou a conversar com o Nicolau,
se não ficou a conversar com o Nicolau,
ou a trocar cromos com o Simão,
ou a atar os sapatos.
Independentemente da posição dele neste momento, estamo-nos a aproximar. A distância que nos separa é insignificante, como há muito tempo não acontecia.
Porque ontem ele faltou, não sei porquê.
E anteontem foi domingo e não há escola ao domingo.
E antes de anteontem foi sábado. E eu não fui à ginástica.
E anteontem foi domingo e não há escola ao domingo.
E antes de anteontem foi sábado. E eu não fui à ginástica.
Estou a atravessar a massa densa do mundo na sua direcção, sem que a força do calendário nos afaste e aproxime como se fosse um jogador de flippers, a brincar ao destino.
Meço a distância daqui até ao Bloco C em minutos, em passo de corrida, a velocidade de avião a jacto. E em batimentos do coração: tum-tum, tum-tum, tum-tum. Cento e vinte e oito.
É inevitável cruzarmo-nos. As linhas-cauda-de-cometa que os nossos corpos-cometa descrevem vão-se encontrar, desenhando no mapa um movimento gracioso em forma de Y. Ou talvez o movimento menos perfeito mas igualmente gracioso de um X.
A esta altura, eu ainda não sei qual deles o jogador do mundo decidiu desenhar. Agora, ainda estou a deslocar-me... a velocidade sideral!
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