Episódio 5 - «Duas casas e duas tardes» (Catarina Sobral)

 

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O dia em que ficámos sem casa foi muito divertido.
Como era domingo, fomos visitar os meus avós. Mas antes de sairmos, os meus pais deixaram a máquina da louça a trabalhar. Provavelmente sentiu-se explorada e explodiu de raiva.
Devia ser socialista.

Quando voltámos, uma multidão de pessoas e carros de bombeiros rodeava o prédio, já o incêndio tinha devorado quase todos os meus peluches. Salvou-se o Cão-Cão, o mais importante. Soube disto umas horas depois e só aí compreendi porque estavam tão aflitos os meus pais quando um bombeiro lhes disse “explosão no segundo direito”. Também estavam preocupados com o Cão-Cão, claro!

Nessa tarde, eu e a minha irmã fomos brincar para a casa duma amiga e nas semanas seguintes, fomos viver para uma casa emprestada, ao pé da pré.

Ainda voltámos a morar na casa da explosão, mas por pouco tempo. A casa nova estava mesmo a acabar de ser construída. Até já lá tinha ido brincar! Estendemos um tapete na sala para não nos sujarmos com o pó das obras e passámos lá a tarde. Senti-me vagamente culpada por estarmos a trair a outra casa e por termos passado por ela de forma tão incendiária. Lembro-me de pensar que podíamos tê-la deixado sem más memórias.

Hoje acho o contrário. Assim, sempre tem uma história para contar.

Bio Catarina Sobral

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